POR ERICK, O CAÇADOR
Numa das 32 cadeias do Estado do Rio Grande do Norte,
presidiários amotinados depredam tudo e ameaçam matar outros internos rivais. A
gritaria é grande e, aparentemente, a situação está fora de controle. De
súbito, um grito ecoa em meio ao caos: "O GOE VAI ENTRAR! TODO MUNDO PARA
O FUNDO DAS CELAS!" Na sequência, homens de uniforme rajado,
equipados com material antimotim, invadem o recinto. Uma granada de efeito
moral explode com barulho ensurdecedor - quem não obedecer imediatamente será
submetido à força -os membros do GOE são mestres do CQB ( Close Quarter Battle
- Combate em Ambientes Fechados) e não brincam em serviço! Os amotinados correm
para o fundo de suas celas e se amontoam, sentados e encolhidos. Mais uma Crise
Prisional foi abortada antes de virar manchete. O Grupo de Operações Especiais
da Secretaria de Justiça e Cidadania (SEJUC) do RN é assim: discreto, rápido,
eficiente.
A situação acima descrita é ficcional, mas dá boa
idéia das 271 Operações de Intervenção Tática feitas pelo GOE/RN, só em 2016.
Observe que o volume de trabalho foi intenso... E só estamos falando de
intervenções! O GOE também realiza Segurança e Escolta de Autoridades em visita
às unidades prisionais ( Juízes, Promotores, Secretários de Estado, etc),
escolta de presos especiais ( pelo grau de periculosidade), reforço do plantão
em unidades prisionais necessitadas, além de Operações de Patrulhamento ( que
incluíram nove prisões em flagrante)... Foram 463 ocorrências atendidas
em 2016! Como se não bastasse, ainda há um cotidiano puxado de treinamentos e
esmero na manutenção do armamento e equipamento. Os guerreiros do GOE formam a
elite mais desconhecida da Segurança Pública Potiguar - mas nesse artigo
vamos mostrar um pouco desses Heróis do Sistema Penitenciário.
Em janeiro de 2017, o Presídio Estadual de Alcaçuz virou notícia
internacional devido a Guerra de Facções Criminosas em seu interior. Menos
noticiadas foram as diversas outras emergências simultâneas em várias unidades
prisionais potiguares, rapidamente controladas. O GOE estava em todas. Essa
tropa é, de fato, o bicho papão dos cadeeiros rebelados. Numa das revistas
feitas após Intervenção nos Pavilhões da Alcaçuz rebelada, chegou a ser
recolhida uma carroça inteira, repleta de lanças, espadas, facas e facões, bem
como bandeiras e escudos improvisados! E celulares, muitos celulares...
O trabalho do GOE é incessante, exaustivo, minucioso,
sob pressão constante. Só homens e mulheres da têmpera mais forte para suportar
tal disciplina. Um único erro pode assumir proporções desastrosas,
principalmente se explorado pela mídia hostil e agremiações oportunistas de
"Direitos Humanos" a serviço das Facções Criminosas. Num Sistema
Prisional de estrutura decrépita, com unidades superlotadas e recebedor de
muita cobrança, mas pouco investimento, o GOE representa a salvação política
das autoridades sentadas nos Salões do Poder; São os bombeiros sempre capazes
de debelar os "incêndios" cotidianos, causados pelas falhas absurdas
do Sistema. Como seus demais irmãos Agentes Penitenciários, tiram leite de
pedras, para manter fechadas as Portas dos Infernos onde a Sociedade encerra
seus demônios. Esses são os fatos.
Criado em 2011, o GOE mata no peito todas as situações em que o controle
emergencial da ordem é necessário no sistema prisional e, para isso seu
recrutamento é de seleção rigorosa, um verdadeiro garimpo dentre o efetivo dos
Agentes Penitenciários do Estado. As qualidades observadas num candidato são
"personalidade, honestidade, amor à causa, vibração, preparo físico e
psicológico. Esses são os requisitos básicos para pertencer ao grupo" -
como diz o Ag Pen Leonardo Alves, seu atual comandante. Depois de
encontrada a jóia bruta, vem a lapidação...
Os voluntários passam por um estágio de três meses em que se alternam
treinamento e missões reais ao nível de sua capacidade, para o momento. O ritmo
é puxado: além da Doutrina GOE de Intervenção Tática Prisional, treinam
técnicas aprendidas pelos membros veteranos do Grupo em cursos ministrados por
outras instituições de Segurança Pública, tais como Patrulhamento Tático Móvel
( PATAMO), Operações de Choque e Policiamento de Choque. A PMRN e o
Departamento Penitenciário de Operações Especiais (sediado em Brasília) são
parceiros sempre presentes nessas capacitações.
Se espera do estagiário que dê seu sangue, suor e lágrimas - e
mesmo os mais brutos choram em meio ao gás lacrimogêneo! Tecnicas de combate
corpo-a-corpo, uso de espingardas com munição de elastômeros ( balas de
borracha), formações de grupo de controle de distúrbios... uma carga maciça de
conhecimento prático e teórico é ensinado e cobrado. Caso o estagiário se
desempenhe à altura dos padrões de excelência do GOE, é declarado membro
efetivo ao término do estágio. Se não, é desligado. O GOE não quer quantidade
e, sim, qualidade.
Atualmente, o efetivo total do grupo é de 19 homens e 03
mulheres. Lembram da quantidade de ocorrências que esse seleto e diminuto grupo
atendeu, só no balanço do ano de 2016? Sim, é de se admirar mesmo! Os membros
do GOE são inquebrantáveis, poucos e polivalentes. Invencíveis, pode-se dizer,
e sempre prontos para cumprir qualquer missão!
Alguém pode se perguntar como deve ser um ser humano
desse calibre. Talvez, você já tenha cruzado com um deles pelas ruas, num dos
poucos momentos em que não estão num mundo de grades, muralhas, escudos e
capacetes. Poderia um deles ser o jovem afável que sorriu enquanto pagava suas
compras na padaria? Poderia ser aquela gata que se bronzeava na Praia de Ponta
Negra, com biquíni minúsculo e tatuagem delicada, uma integrante do GOE? Sim,
claro que sim. A face absoluta e coercitiva de um membro do GOE é a
máscara negra "balaclava" reservada para o chamado do dever. Aí, a
aparência é toda outra.....
....Que
o diga a escória Prisional rebelada, a razão porque seu sangue gela e a brabeza
acaba, no exato momento em que se escuta nos meandros das cadeias, aquele grito
agourento: " O GOE VAI ENTRAR"!
Erick Guerra, O Caçador